Foi no sábado que este blogue atingiu a maioridade. Talvez esta data merecesse ser marcada de forma mais especial, mas numa altura em que ando tão desencantada das redes não me faz sentido grandes celebrações.
No dia em que comecei este blogue foi sem esperar absolutamente nada. Foi uma brincadeira como outra qualquer, numa altura em que os blogues se iniciavam, onde tudo era anónimo e lido apenas por uma mão cheia de pessoas.
Tinha começado isto dos blogues umas semanas antes, num blogue de “ dietas”, mas depressa reparei que as pessoas estavam mais interessadas nas receitas do que eu comia, do que propriamente nos passos da dieta. Assim consegui aliar duas coisas que sempre gostei de fazer: cozinhar e escrever. Ainda que as “introduções” do blogue só tivessem começado um pouco mais tarde - os primeiros posts não têm introdução, apenas a receita.
Na altura tinha ainda um emprego convencional das “9 às 17”, e na altura ninguém ainda sabia que era possível que as redes sociais pudessem ser o emprego/trabalho de alguém.
A vida foi correndo ao longo destes 18 anos. Tive o primeiro contacto para escrever um livro, deixei de ser um blogue anónimo, vieram as redes sociais como o Facebook e mais tarde o Instagram. De um livro passei para 8, tive de acompanhar o crescimento exponencial das redes sociais, da “concorrência”, lidei mal com algumas coisas e melhor com outras. Passou a ser-se “criador de conteúdos digitais”, e isto passou a ser profissão. Passei a dar workshops, masterclass, fazer receitas para marcas e até fui à televisão algumas vezes. Tive 3 filhos, mudei de casa, cresci.
Tentei nunca mudar a minha direção e o caminho que em trouxe até aqui. Continuo a partilhar diariamente receitas de todos os dias, para quem cozinha regularmente. Umas vezes doces, outras salgadas. Saladas ou sopas, carne ou peixe e até vegetarianas. Algumas sem gluten, outras sem ovos. Algumas muito calórica se gulosas, outras mais saudáveis. Receitas portuguesas e tradicionais e coisas do mundo. Mas todos quase sempre simples e acessíveis a todos com ingredientes fáceis de encontrar.
Mas agora ao fim de 18 anos disto, tenho dias em que não me apetece. Tenho dias em que sinto uma falta imensa da pureza e simplicidade do início dos blogues. Sinto falta das partilhas verdadeiras, das fotos feias tiradas de comida real em pratos reais sem grande “food styling”. Sinto falta das partilhas sem a busca incessante dos likes e da interação do Instagram. Do crescer apenas para mostrar às marcas, que muitas vezes só olham apenas para números e não para valor daquele perfil. De sentir que há quem não saiba grande coisa de nada, mas são especialistas de todos. E às vezes também farta de partilhar conhecimento, dicas e receitas (a troco de nada) e de muitas vezes nem um obrigada ouvir do outro lado. De ainda acharem que tenho obrigação de responder na hora, de explicar, de partilhar porque tenho uma conta aberta, e de cada vez que se encaminha as pessoas para onde está a informação ainda se é mal interpretada porque não se ofereceu tudo de mão beijada…
Não me interpretem mal. Sou extremamente agradecida por todo este caminho, e sei que as pedras fazem parte dele. Mas, ao contrário de muitas pessoas deslumbradas que andam por aqui, encadeadas pelas luzes da ribalta da fama de redes sociais, tenho dias que gosto cada vez menos deste ambiente e protejo-me dele.
Não sei fazer fotos os videos bonitos e apto para ganhar mais visualizações, e também não quero aprender, porque a minha vida é feita de muitas outras coisas que eu valorizo muito mais.
Portanto vou continuando por aqui. Nestas partilhas nuas e cruas de cabelo sujo e fato treino, sem filtros, a cozinhar o que me apetece e a partilhar porque me apetece, e a dar as dicas que gosto. Gosto das minhas pessoas que continuam sempre aqui e não se importam com nada disto.Que não valorizam só o bonito, que colocam os gostos se querem, se partilham se querem e que sabem que nunca vou pedir likes para partilhar uma receita ou uma dica.
Apesar de desencantamento do momento, são 18 anos fantásticos. Obrigada por estarem aí, e até aos 19 anos! Pode ser que nessa altura já tenha voltado a fazer as pazes com as redes sociais.
Até lá, e se me permitem, um conselho: valorizem quem gostam de seguir e não sejam só seguidores silenciosos.